Brincando de Jack Antonoff: a tracklist de ‘Lover’ editada e reordenada
Porque 18 músicas são um exagero — o que você estava pensando, Taylor Swift?
E u amo o Lover. Amo mesmo. [I love Lover (risos)] É meu segundo álbum favorito da discografia de Taylor Swift — perdendo para reputation, que merece um texto só dele (vem aí). Foi através de Lover que eu voltei a ouvir TS e passei a me considerar uma fã, em 2019, ano de seu lançamento. Contudo, meu amor pelo álbum não me impede de enxergar seus diversos problemas.
Não é à toa que ele é um dos discos menos amados pelo fandom da cantora. Os problemas começam pelo número de faixas. Taylor decidiu incluir 18 músicas na versão standart do álbum. Dezoito. Na versão standart. Isto é, não há faixas bônus. Todas são consideradas parte integrante do corpo de Lover.
Taylor tem muito a aprender com Lorde. Seu melhor álbum, Melodrama (2017), tem apenas 11 músicas. Todas produzidas por Jack Antonoff (também produtor de TS, além de Lana Del Rey), com letras bem pensadas e coesão sonora e temática. Melodrama foi nomeado para o Grammy de Álbum do Ano. Perdeu para 24K Magic, do Bruno Mars, porque não existe justiça no mundo.
Às vezes, excesso de liberdade faz mal. Lover é o primeiro álbum cujos direitos pertencem completamente a TS. Após uma ruptura drástica com sua antiga gravadora, a Big Machine Records, Taylor migrou para a Republic Records, subsidiária do Universal Music Group, onde lhe ofereceram os masters de todos os discos que ela viria a produzir e muito, muito controle criativo.
Faltou alguém pra dizer: “mas, Taylor, você não acha que 18 músicas é um pouquinho exagerado?” Quanto mais canções em um álbum, maior o risco de pelo menos uma delas ser ruim. E Lover tem mais do que uma música ruim. Metade das faixas é dispensáveis. Para manter um tamanho comercialmente aceitável, mantive 10. Tentei forçar e deixar 13 (o número favorito de TS), mas não consegui. Tem simplesmente bombas demais nesse álbum.
Histórias de quem vai e de quem fica
Abri o Lover editado com Cruel Summer, em vez de I Forgot That You Existed por duas razões, uma conceitual e uma prática. A primeira é porque TS resolveu iniciar o álbum de sua era paz e amor afirmando ter se esquecido da existência de seus detratores. Bem, se ela tivesse se esquecido mesmo, não faria toda uma música sobre isso, né? Muito menos daria a eles a importância de ser o tema da faixa de abertura do primeiro álbum de que ela é dona.
A segunda razão é pelo fato de I Forgot That You Existed ser ruim mesmo. Cruel Summer tem mais força, tem mais punch, mais presença, é uma fan favorite (não é das minhas preferidas, mas entendo o apelo). Tem tudo para deixar uma primeira impressão positiva no ouvinte. Sua ponte, gritada com um quase desespero, entrou logo para o hall da fama da arquitetura swiftiana.
A faixa-título, Lover, terceira canção na tracklist original, foi parar na segunda metade da minha edição. Simplesmente porque ela é boa demais pra ser entregue assim, tão rápido e fácil. The Man, a quarta faixa, foi incinerada. Pop raso, militância forçada, letra das mais óbvias, sem um pingo de espaço para interpretações… Se vocês querem ouvir um verdadeiro hino feminista, ouçam mad woman, do álbum seguinte, folklore.
Como faixa 2, puxei I Think He Knows, um popzinho animado, safadinho e inofensivo. É uma das minhas faixas favoritas de Lover. A terceira vaga ficou com Miss Americana & The Heartbreak Prince, que, apesar de tentar ser “woke” na letra (e falhar), tem melodia e produção interessantes. Em seguida, pus Death By A Thousand Cuts, outra fan favorite com uma ponte matadora.
Assim chegamos à faixa de número 5. Ah, a faixa 5… Uma das maiores místicas da discografia de TS. Desde muito cedo em sua obra, Taylor escolhe para o quinto espaço de seus discos canções com um forte teor emocional. Dear John (Speak Now, 2010) e All Too Well (Red, 2012), por exemplo, são duas das faixas 5 mais icônicas do mundinho Taylor Swift.
Na minha versão do Lover, a faixa 5 é Cornelia Street, não The Archer. Apesar de nem de longe ser tão emocional quanto as clássicas faixas 5, Cornelia Street fala sobre um começo difícil de relacionamento e a insegurança que isso causa. É uma letra muito sincera. Passei The Archer para o final do álbum (não por demérito — explico minhas razões mais à frente).
A sexta posição ficou com London Boy, que é boba toda a vida, mas tem seu valor se você estiver no mood certo. A sétima faixa é Lover, essa coisinha maravilhosa. Achei a posição 7 digna de sua grandiosidade. Curiosamente, Paper Rings é a oitava música tanto no álbum original, quanto na minha versão. Não tem nada de especial, mas, como London Boy, pode ser divertida.
Para fechar meu Lover editado, há duas das melhores músicas deste álbum: False God e The Archer. Já consigo ouvir as vaias da plateia. Aceitem o inegável: False God é a maior. Como já escrevi aqui, meu sonho é que Taylor faça um álbum todo (quem sabe o próximo, o antecipado TS10) na mesma pegada de False God. Nós 📢 queremos 📢 jazz 📢
[Uma coisa que só reparei agora, quase três anos após o lançamento de Lover: Miss Americana & The Heartbreak Prince e False God têm a mesma vibe. Mas não é tão óbvio porque as letras são quase diametralmente opostas. MA&THP é sobre um high school love e os desafios da adolescência. False God é sobre gostar tanto de transar com seu namorado, que você eleva esse relacionamento a um status divino (quem nunca?).]
The Archer é bastante impopular entre o fandom. Muitas vezes é citada como a pior faixa 5 em todo o swiftverso. Eu a acho de uma honestidade brutal. Fala de autoimagem, rejeição, auto-ódio. É muito forte. A produção tem uma qualidade etérea. Como se a mensagem fosse tão difícil de comunicar que precisasse de uma instrumentação quase não natural. Eu acho brilhante.
Cortei seis das nove músicas da segunda metade do Lover. Ficaram de fora: Soon You’ll Get Better, You Need To Calm Down, Afterglow, ME!, It’s Nice to Have a Friend e Daylight, além das supracitadas I Forgot That You Existed e The Man, que figuram no início do álbum.
Na minha cabeça, Afterglow, It’s Nice to Have a Friend e Daylight são uma maçaroca que não sabe onde começa e onde termina. Mais do mesmo. Farinha do mesmo saco. Das três, a menos pior é It’s Nice to Have a Friend. Tentei incluí-la no Lover editado, mas minha consciência não deixou.
Três das oito faixas que subtraí foram singles: ME!, You Need To Calm Down e The Man (o único single competente dessa era é Lover). Nunca vou entender a lógica por trás dessas escolhas. Por fim, Soon You’ll Get Better é uma música que se pretende profunda (por ser sobre a doença da mãe de Taylor), mas é esquecível e desperdiça os vocais do grupo country The Chicks.
Tracklist? More like tracklost (opa, baixou um Michael Scott aqui). Fã ou hater?, perguntaria Anitta. Fã com senso crítico!!!!11