Dia das crianças, ‘20
Um tratado pela consideração
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Eu gosto do dia das crianças porque a gente vê a versão mirim de várias/os das/os nossas/os amigas/os, familiares, colegas de trabalho, namoradas/os. Ver essas fotos antigas traz à tona a noção (às vezes, enterrada) de que essas pessoas existiram e existem independentemente de você. Sua mãe teve toda uma vida antes de você nascer. Sua/seu namorada/a existia antes de te conhecer. Ela/e talvez criasse patos no quintal da avó quando criança. Talvez viajasse pro litoral de Santa Catarina todas as férias. Talvez fosse todo fim de semana pro parque com os pais. Por trás da sua amiga, da sua namorada, da sua colega de trabalho (por ora, cansei dos gêneros inclusivos), existe todo um sistema de onde ela vem. Existem no mínimo umas duas dezenas de pessoas que a amam muito muito muito, prezam e torcem pela felicidade dela: o pai, a mãe, irmãos, irmãs, tias, tios, avós, primas, primos, amigos, vizinhos. Essa bagagem, diferentemente daquela famosa bagagem de relacionamentos passados, vista com cautela, é uma bagagem positiva, uma bagagem que a gente (o Outro) talvez desconheça. E essas fotos antigas são uma maneira de dar uma olhadinha pela janela. Aquela pessoa que é coadjuvante na sua história é protagonista da história dela mesma e uma puta de uma personagem importantíssima na história das pessoas que a amam. Então, eu gostaria que essas fotos antigas que tomaram as redes sociais nos últimos dias fizessem com que nossas percepções sobre as outras pessoas se ampliassem um pouco, que inspirassem compaixão, curiosidade, interesse. Ter a ciência de que o outro é a pessoa dela, com suas idiossincrasias (tempo que eu não usava essa palavra bombástica!). Ela tem raízes, ela não é solta no mundo. Vamos tratar a todos com a consideração que elas merecem.