Encucações de um frágil ego masculino

Ana Carolina Santos
2 min readJul 2, 2017

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Estou de olhos fechados, mas a imagem das estantes abarrotadas de livros não sai da minha cabeça. O pior é saber que, assim que eu os abrir, elas estarão lá. Estantes e mais estantes. Ela disse que parou de contar quantos livros tinha depois que passou de 500. Quinhentos livros. Quinhentos fucking livros. Dá pra ler isso tudo numa vida?

Assim que entrei no conjugado dela, tive uma visão de mim mesmo soterrado por aqueles livros. Literalmente soterrado. Porque metaforicamente eu já estou. Desde que começamos a sair, há uns dois meses, me sinto perseguido por toda essa bagagem intelectual da Sofia.

Sofia. Até o nome dela é intelectualmente arrogante. O pai é filósofo. Professor universitário, acadêmico foda, teve aula com o Foucault. Não tinha um nome menos óbvio pra escolher, não, ô Aristóteles de Ipanema?

Estou de olhos fechados, me esforçando pra não gozar rápido demais. A maioria dos homens pensa em coisas aleatórias pra não botar tudo a perder: a escalação do Fluminense campeão brasileiro de 1984, doenças de pele, a avó pelada. Mas eu não preciso pensar em Assis, Washington e companhia, porque sinto a presença d’Os Livros.

A Sofia geme alto e eu abro os olhos. Ela está embaixo de mim. Foco no rosto dela, beijo sua boca. Ela não tirou os óculos nem pra foder. Viro minha atenção para os pequenos seios dela. Aproximo minha boca dali, mas, pela minha visão periférica, avisto Os Livros.

Atonement.

Encaro-Os de frente. Meto com mais força. Envolvo o seio direito dela com minha mão e aperto. Ela geme cada mais vez alto, mas não a olho. Meu foco está num McEwan. A fricção de nossas pélvis faz barulho de palma. Fixo num Dumas. Ela tá perto de gozar, tenho certeza. Clap clap clap. Chupo o mamilo esquerdo dela e ela goza enquanto encaro um calhamaço do Tolstói. Alguns segundos depois, gozo olhando uma bonita coleção da Jane Austen.

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