Meu diastema e outros poemas
Meu diastema era enorme
Saiu até na revista
Era essa a notícia:
o tamanho do meu diastemaUma falha
Uma fenda
Uma fissuraUm buraco
Uma passagem
Bem nos dentes da frenteEu conseguia
colocar a língua ali
entre os incisivos centraisQuando mordia a carne,
o diastema estava ali, marcado
como mordida de desenho animadoEle diz que gosta do meu sorriso
Prefere que eu sorria com os dentes
a sorrir com os lábiosSegundo ele,
com os lábios,
meu sorriso é melancólicoCom os dentes,
lhe aquece por dentro
e lhe traz felicidadeMe pergunto se ele gostaria
do meu sorriso diastêmicoTenho 99 problemas
Nenhum deles é meu diastemaMeu diastema
virou tema
de poema
bloco i, apto. 303 II
Coisas familiares, coisas que dão conforto. Um conjunto com prédios de quatro andares, quatro apartamentos em cada andar, sem elevador. Um endereço familiar. A maior avenida da zona norte. O bairro que eu não conheço bem, mas poderia vir a conhecer, porque tem três linhas de ônibus que servem pra mim: 560, 639 e 917. Ainda gosto do número 17, apesar de tudo. Porque 7 é meu número preferido, 1 também é um dos números que eu mais gosto e o 8 é sagrado pros chineses. Mas tô digredindo. Falava sobre o familiar. O conjunto de prédios na zona norte que parecia o conjunto de prédios na zona norte onde eu nasci, fui criada e onde meus avós moram até hoje. Pra onde eu vou quase todo fim de semana. O familiar: quando eu adentrei a casa dele, Taylor Swift cantava na televisão. A playlist com suas músicas favoritas da cantora, mais tarde ele me disse. Era “tolerate it”. Depois, começou a tocar “betty”. Ele tava na cozinha pegando cerveja pra gente, então eu saquei meu celular e gravei um vídeo da TV, enquanto Taylor cantava “yeah, I showed up at your party, will you have me? Will you love me?” Se eu aparecer na sua porta, você vai me receber? Você vai me amar? Devaneios, devaneios.
A year
It was November
We had no pillows
We had no fan
No air conditionerWe were not cold
We were not hot
Although we sweat
A lotI laid on your left arm
So I could
look at your face
And memorize itIt’s been a year
I still see your face
I see your whole body
That I loved
lived onHis body is so beautiful
He looks like a Greek statue
But I still think
of your thin bodyYour bones
On my flesh
Your cold
On my heatAt least he’s got a fever
Dia da marmota
Eu poderia ficar assim por horas
Ou talvez o resto de nossos dias
Apenas te observando
Explorando cada detalhe do seu rosto
Eu nem precisaria te tocar
Sentir a sua pele âmbar
sob o sol do fim do verão
Só olharia pro seu rosto
Até memorizá-lo com tal precisão
A ponto de desenhá-lo
Pintá-lo
Esculpi-lo
De cabeça
Como em Groundhog Day