O tempo passa rápido demais há 20 anos

Carpar o diem, procrastinação e expectativas

Ana Carolina Santos
Caracoles

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Vossa Humilde Narradora aos 7 anos

A meta era fazer episódios todos os meses entre setembro de 2022 e setembro de 2023. A meta foi cumprida no mês passado. Mas agora tá tão perto do fim do ano que eu pensei: “por que não? Por que não estender a meta até dezembro?”. Aí quando a gente atingir a meta, a gente dobra a meta. “A gente”, eu, no caso. Porque este podcast é um exército de uma mulher só.

Bem, eu tinha a intenção de fazer um episódio em outubro, mas enrolei a vida pra escrever o roteiro. Além disso, me perdi no tempo. Tava achando que outubro tinha 30 dias, como novembro. Então me programei pra escrever o roteiro até o dia 29. Que aí eu gravava na madrugada do dia 30 e publicava ao longo do dia. Mas aí chegou dia 29, e percebi que outubro teria dia 31.

Então eu fiquei com uma sensação muito gostosa de que ganhei um dia. Um dia com o qual eu não tava contando. E o que eu fiz com esse dia? Isso mesmo, procrastinei mais. O que me trouxe até aqui, às 3h28 do dia 31 de outubro de 2023, contendo bocejos pra poder gravar esse podcast. Antes eu não tivesse me dado conta de que outubro ia até 31. Teria entregue o episódio com um dia de antecedência. Tipo o final de “A volta ao mundo em 80 dias”, do Júlio Verne. Alerta de spoiler.

Mas eu falava do ano. Passou tão rápido, né? E eu tenho essa exata sensação há 20 anos. Desde que tinha 7 e tava na primeira série. De que o tempo passa rápido demais. Você pisca e já tá no fim do ano. Você também tem essa sensação? Acho que todo mundo tem. Pra mim, isso começou em 2003 porque foi aos 7 anos que eu comecei a me perceber como um indivíduo e a prestar atenção no que eu tava fazendo. Que era estudar.

O meu propósito de vida era ser uma estudante. Acho que isso rola com todas as crianças consideradas “inteligentes” e “boas alunas”. A gente se alimenta daqueles elogios e meio que vive pra aquilo. Aí depois, só uns longos anos na terapia pra desconstruir essa ideia limitada sobre si mesma.

Apesar de ter essa sensação há 20 anos, de que o tempo passa rápido demais, eu ainda me surpreendo com quão rápido ele passa. Já tamo em outubro?? Mentalmente, eu ainda tô lá pra junho. E é assim todo ano. Todo ano eu tenho a sensação de que não tô aproveitando. De que tô desperdiçando essa dádiva que é a vida.

Por isso, tenho tentado ser mais “intencional” com as coisas que faço. Pensar mais sobre elas. Por que eu faço as coisas que eu faço? Eu tô privilegiando experiências em detrimento de aquisições materiais? Acho que esse é um grande ponto quando a gente fala de “aproveitar a vida”. Começando com o fato de que “aproveitar a vida” tem definições diferentes pra cada um, né? Pra mim, é ter experiências. Até porque essa é a matéria-prima da escrita. Se eu quero ser uma escritora no futuro, não posso só ficar enfurnada em casa olhando reels no Instagram.

A procrastinação desse mês tem uma causa muito específica: o atual momento de expectativa que eu tô vivendo. É um período muito especial da vida de quem torce pelo Fluminense e é fã da Taylor Swift. E acredite em mim, essa interseção é muito mais comum do que você imagina. O Fluminense tá na final da Copa Libertadores da América, e isso é gigante. Se você não acompanha futebol, estar na final da Libertadores é gigante porque esse é o torneio mais importante da América do Sul. É um título internacional. E um título que o Fluminense ainda não tem. Nós batemos na trave em 2008, com um vice-campeonato. E agora, 15 anos depois, temos a chance de finalmente levar esse caneco pra casa. A final vai rolar no dia 4 de novembro, um sábado. Talvez você esteja ouvindo esse episódio depois do dia 4, com o Fluminense já campeão. Me diz aí. O Fluminense foi campeão mesmo? Espero que sim. Eu tô bem confiante.

E agora, sobre a outra metade da minha personalidade, que é ser fã da Taylor Swift. Bem, no dia 17 de novembro, ela chega à nossa humilde residência, a República Federativa do Brasil, pra fazer seis shows por aqui. Três no Rio e três em São Paulo. Falei longamente sobre isso no episódio de julho, chamado “Você está sozinha, garota.” Àquela altura, novembro tava tão longe. Era só uma ideia. “Em novembro eu vou ver o show da minha cantora favorita.” E agora eu tô a dias disso acontecer.

Eu deveria estar feliz que esses dois eventos enormes estão tão perto, né? Mas a verdade é que minha natureza pisciana gosta muito, muito mesmo de viver na expectativa. A expectativa é quase melhor que a experiência em si. Porque a coisa só existe na minha cabeça. E, lá, tudo é perfeito. Queria ficar mais tempo na expectativa do dia 4 e da The Eras Tour. Mais um mesinho, pelo menos. Mas torçamos pra que a realidade se apresente tão doce quanto a expectativa.

Há dois anos, tatuei a palavra “aujourd’hui”, que significa “hoje” em francês. Como uma tentativa de me lembrar diariamente de… aproveitar o dia. Carpar o diem, if you will. Porque sinto que toda a minha vida eu vivi só pensando no futuro. Quando eu era criança, fui preparada pra ir pra faculdade. Na faculdade, eu idealizava a entrada no mercado de trabalho e uma eventual mudança de vida. A minha vida foi milimetricamente planejada pela minha família. E eu internalizei isso.

Mas claro que o tempo foi passando, e eu parei de pensar no significado da tattoo toda vez que olhava no espelho. Agora, na maior parte dos dias, ela só tá lá, existindo. Sendo uma parte de mim que não se destaca do todo. Mas são legais as vezes em que eu me lembro do porquê fiz essa tatuagem.

Noite passada, enquanto fazia minha caminhada diária, olhei pro céu e fiquei boquiaberta com quão estonteante tava a lua. Eu literalmente abri a boca e arfei. Ela tava cheia e grande. Sabe aquela cena de “O Todo-Poderoso” em que o personagem do Jim Carrey planeja uma noite romântica com a mulher dele e, como ele tem os poderes de Deus, ele puxa a lua pra perto da terra? Daí a lua fica lá, enorme, lindíssima, a mulher dele fica impressionada. Eu me senti assim.

Além de cheia e grande, a lua tava com uma luz dourada ao redor dela. Me emocionei com aquela visão. Dei mais uma volta no circuito, além das habituais, porque eu queria ver a lua novamente e não queria voltar pra casa e escrever o roteiro do episódio que você está ouvindo agora. Ainda tem tanto da vida que a gente pode apreciar. Coisas singelas e coisas gigantes, como a lua e uma final de Libertadores da América.

Toda data é única. Jamais vai existir outro dia 31 de outubro de 2023. Ou qualquer data em que você esteja ouvindo isso. Quatro de novembro de 2023, o dia em que o Fluminense foi campeão da Libertadores pela primeira vez. (Não é soberba, é confiança.) Jamais vai existir outro dia 31 de outubro de 2023. Teve 31 de outubro de 1923. Teve 31 de outubro de 2023 antes de Cristo, mas não se usava o calendário gregoriano. Agora, 31 de outubro de 2023 depois de Cristo, como diz aquela música do Jota Quest, só hoje. Isso não te incendeia de vontade de viver? A mim, sim.

Tá. Eu vou fazer aquele negócio de pedir pra você compartilhar esse episódio nas suas redes sociais, se você gostou dele. Segue o perfil do podcast lá no Instagram. E/ou o meu Instagram pessoal. Todos os links estão na descrição. Nossa, eu me sinto muito falsa pedindo pra vocês fazerem isso. Façam se quiserem. Eu vou ficar feliz se vocês fizerem. Mas eu não posso esperar que vocês sejam responsáveis pela minha felicidade. Aliás, é certo de que eu vou tá feliz no dia 18 de novembro, que é quando eu vou ver o show da Taylor. E tem 50% de chance de estar feliz no dia 4 de novembro. Tomara que eu esteja feliz no dia 4 de novembro. VAMOS, TRICOLORES, CHEGOU A HORA, VAMOS GANHAR A LIBERTADORES.

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Ana Carolina Santos
Caracoles

Leitora e escrevedora de transporte público. Faço o podcast Caracoles: https://linktr.ee/santosacarolina