Qualquer obstáculo é grande demais
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Não me lembro de já ter escrito sobre minha depressão. Já conversei sobre ela com amigos, psicólogas, minha mãe, mas nunca pus num papel. Talvez por medo de vê-la ali, escancarada na minha frente. Tudo escrito é mais real, não?
Antes dessa, eu tive três crises na minha vida: a de 2011, que durou vários meses; a de março-abril de 2015; e a de setembro a dezembro de 2016. Esta, a quarta, chegou sorrateiramente neste mês de maio de 2017.
Usualmente, a depressão é representada por um grande cão preto que impede a pessoa de prosseguir. Eu, pessoalmente, não gosto dessa metáfora. Para mim, a depressão são cordas que me atam à cama.
Dez, 14, 16 horas de sono. Quanto mais eu durmo, mais sono eu tenho. Acordo, como, volto a dormir. Acordo, como, volto a dormir. E me entrego a atividades passivas, tais como assistir a uma temporada inteira na Netflix ou ver todos os vídeos de uma playlist de gamers jogando Uno no YouTube.
Não. Consigo. Acordar. O despertador toca e eu quero, do fundo do meu coração, levantar e começar meu dia. Eu quero. Mas aí ligo a soneca. E sigo ligando a soneca. Isso quando eu a ouço tocar. Aí acordo 11h, 12h, 14h.
Ok, já que fiquei em casa (de novo), vou fazer alguma coisa útil. Vamos lá, levanta. Não. Consigo. As cordas não deixam. Jogo mais um dia fora em meio à Netflix, ao You Tube e ao sono que me paralisa.
Finalmente consigo me motivar. Arrumo o quarto e sento em frente ao computador. Mas qualquer obstáculo é grande demais. Qualquer coisinha, mínima que seja, é o suficiente para me fazer desistir.
Chega o dia em que penso: “Ok, não posso mais ignorar minhas responsabilidades”. Isso demanda um esforço hercúleo, mas vou lá e faço. E vejo que não é tão difícil assim. Aliás, não é difícil de jeito nenhum. É prazeroso. Eu gosto disso. Sou boa nisso.
A ansiedade me faz temer fazer qualquer coisa. Não faço e me sinto culpada por não fazer. O tempo todo em que estou na cama, presa pelas cordas, estou pensando em tudo que tenho para fazer e não relaxo nem por um minuto.
Mas hoje eu venci. Fui lá e fiz. E me sinto ótima.